Muito prazer, me chamo Sergio Lobato, sou um obeso em
recuperação, gastroplastizado e tenho 42 anos de vida, dois quais 38 vivi no
universo de todos os estágios da obesidade, do estágio fofinho até o
superobeso!
E eu tenho um segredo para te contar.... será que conto?
Bem....eu....eu...como posso dizer isso sem te chocar?
Vai lá...eu............................................. COMO!!!
Pode parecer surreal mas eu como...comida!
Uau! Eu não faço
fotossíntese e nem vivo de luz...eu como!
Bem...falando sério agora pessoal...eu queria falar um pouco
sobre essa questão por que vejo muita gente sem entender por que eu que sofro
de obesidade mórbida ( sim, posso estar menos gordo agora mas a obesidade não
tem cura , ela está aqui dentro de minha alma, de minha mente e de meu espírito
..escondida em um reservatório que se eu fosse descrever anatomicamente creio
que ele ficaria entre o coração e o cérebro, com conexões nervosas com a boca e
com o estômago!!) e ainda tenho um blog que fala de comida!
Oi??Como assim seu gordo???
Bem, muita gente que me acompanha nas redes sociais sabe que
uso dela como um diário e posto sim fotos da minha rotina alimentar quando
estou em casa e posso ter o prazer de cozinhar.
Mas quando eu comecei soube de muita gente que falava por
trás assim..( se bem que ainda hoje falam...rs)
“ Ih olha lá..daqui a pouco tá gordo de novo!”
“ Tadinho só fala em comida, nunca vai deixar de ser gordo!”
“Porra para que operou se só fala de comida, por isso que
era gordo essa desgraça!”
Enfim, muita gente vinha me questionar diretamente e eu
dizia que eu estava buscando uma maneira de criar minha trajetória, meu caminho
na gastroplastia pois... sinceramente? Na boa? Na real? Muitos desses que me
questionavam tinham operado antes de mim e eu pude acompanhar a “trajetória”
deles e sinceramente não queria passar nem perto do que eles tinham se
tornado...em vários aspectos!!!
Ter ficado 3 anos e nove meses na em compasso
de espera para poder ter condições físicas para operar foi bom por que pude ser
um bom observador da natureza gastroplac humana e ver que eu poderia aprender
com isso tudo.
Eu deixo claro hoje que a comida é algo que me ajuda e
muito, mas que eu sei que é como uma inimiga que prefiro deixar bem próxima de
mim para que eu saiba quais serão os movimentos dela... As pessoas acham que é
fácil, em especial quem não sofre com a
obesidade e claro, nos julga como fracassados e preguiçosos..dizendo aos quatro
ventos que somos aberrações sem força de vontade...
Pode parecer estranho mas até hoje eu tenho tremores quando
me aproximo de pães por exemplo... sinto um aperto no peito, uma angústia na
garganta e pensamentos de gula passam por mim o tempo todo....É difícil saber
que o vício da comida é um vício mais-que-social...diferente de cocaína, crack
e maconha, bebida e cigarro...você precisa da comida para sobreviver!!!
Cabe a mim encontrar
um jeito de calar essa voz que clama por comida.. e aí sabe o que eu fiz? Dei
comida para ela! Mas comida diferente, saudável,variada e até exótica...hehe e fui aprendendo a não sentir mais falta da comida para suprir
minhas decepções e preencher meu tédio ( as duas grandes molas motrizes da gula
que me levaram aos 265 kilos!)
E pessoal...o mundo gira em torno da comida no ponto de
vista social..o que você vai fazer ? Se isolar do mundo? E outra..você precisa
de comida para viver e não mais viver para comer, essa é a troca que as pessoas
parecem querer esquecer que serão obrigadas a fazer.
O medo existe, as pessoas são diferentes e acabam vindo com
esse diálogo, ao meu ver simplista e linear, de que não entendem por que operei
se continuo falando de comida.
Patético...
E olha muita gente pensa assim, não entendem como alguém que
sofreu com obesidade pode falar de
comida do jeito que eu falo.
Sinceramente? Prefiro falar de comida, fazer comida
diferenciada, estudar sobre comida do que ser vencido por ela novamente e
deixar que os problemas de falta de regra alimentar e o transtorno de compulsão
alimentar periódico voltem.
É como estar sempre vivendo na beira do abismo dizem alguns,
e sei que infelizmente muitos torcem para que eu caia e eles falem.. “ Não
disse...gordo é uma merda mesmo...”
Mas quem disse que viver não é estar na beira do abismo?
É o
que sempre falo, não sou exemplo para ninguém, nunca pretendi ser, e nem faço
do blog uma cartilha para que as pessoas mudem suas vidas e encontrem a
luz...risos
Já é difícil e complicado lidar com meus medos, meus fantasmas
e vontades que não tenho tempo nem disposição para assumir tais encargos
extras...faço o que eu posso...
Não é fácil mudar a alimentação, eu digo que não gosto da
expressão “ operei para ter vida normal” por que geralmente quem fala essa
frase está querendo justificar algum comportamento infantilóide e imbecil dos
tempos de gordo ou gorda, quando na realidade jamais souberam o que era ter
vida normal....um contransenso diário....muito comum n a comunidade
gastroplac...mas enfim...cada um com seus problemas!
De tudo isso acredito que o medo da comida estar tão perto é
que ela é um lembrete com gosto, aroma, cor e textura do que fomos...e do que
ainda somos! Pessoas que sempre terão na comida um desafio...
Eu estou tentando todos os dias perder esse medo e vencer
esse fantasma!
Ou no mínimo torna-lo um fantasminha camarada ou que me
permita Maria Clara Machado, meu Pluft Gastroplac!
Pense nisso!
Inteligente, sofrido em alguns aspectos, corajoso... parabens!
ResponderExcluirachei otimo o texto... intimista, mas voltado e focado no que interessa... Parabéns!!!
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