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sábado, 15 de junho de 2013

O Fantasma da Comida...por que ele nos aterroriza tanto?



Muito prazer, me chamo Sergio Lobato, sou um obeso em recuperação, gastroplastizado e tenho 42 anos de vida, dois quais 38 vivi no universo de todos os estágios da obesidade, do estágio fofinho até o superobeso!

E eu tenho um segredo para te contar.... será que conto?

Bem....eu....eu...como posso dizer isso sem te chocar?

Vai lá...eu.............................................  COMO!!!

Pode parecer surreal mas eu como...comida!
Uau! Eu não faço fotossíntese e nem vivo de luz...eu como!

Bem...falando sério agora pessoal...eu queria falar um pouco sobre essa questão por que vejo muita gente sem entender por que eu que sofro de obesidade mórbida ( sim, posso estar menos gordo agora mas a obesidade não tem cura , ela está aqui dentro de minha alma, de minha mente e de meu espírito ..escondida em um reservatório que se eu fosse descrever anatomicamente creio que ele ficaria entre o coração e o cérebro, com conexões nervosas com a boca e com o estômago!!) e ainda tenho um blog que fala de comida! 

Oi??Como assim seu gordo???

Bem, muita gente que me acompanha nas redes sociais sabe que uso dela como um diário e posto sim fotos da minha rotina alimentar quando estou em casa e posso ter o prazer de cozinhar.

Mas quando eu comecei soube de muita gente que falava por trás assim..( se bem que ainda hoje falam...rs)

“ Ih olha lá..daqui a pouco tá gordo de novo!”
“ Tadinho só fala em comida, nunca vai deixar de ser gordo!”
“Porra para que operou se só fala de comida, por isso que era gordo essa desgraça!”

Enfim, muita gente vinha me questionar diretamente e eu dizia que eu estava buscando uma maneira de criar minha trajetória, meu caminho na gastroplastia pois... sinceramente? Na boa? Na real? Muitos desses que me questionavam tinham operado antes de mim e eu pude acompanhar a “trajetória” deles e sinceramente não queria passar nem perto do que eles tinham se tornado...em vários aspectos!!! 

Ter ficado 3 anos e nove meses na em compasso de espera para poder ter condições físicas para operar foi bom por que pude ser um bom observador da natureza gastroplac humana e ver que eu poderia aprender com isso tudo.

Eu deixo claro hoje que a comida é algo que me ajuda e muito, mas que eu sei que é como uma inimiga que prefiro deixar bem próxima de mim para que eu saiba quais serão os movimentos dela... As pessoas acham que é fácil, em especial quem não sofre com  a obesidade e claro, nos julga como fracassados e preguiçosos..dizendo aos quatro ventos que somos aberrações sem força de vontade...

Pode parecer estranho mas até hoje eu tenho tremores quando me aproximo de pães por exemplo... sinto um aperto no peito, uma angústia na garganta e pensamentos de gula passam por mim o tempo todo....É difícil saber que o vício da comida é um vício mais-que-social...diferente de cocaína, crack e maconha, bebida e cigarro...você precisa da comida para sobreviver!!!

 Cabe a mim encontrar um jeito de calar essa voz que clama por comida.. e aí sabe o que eu fiz? Dei comida para ela! Mas comida diferente, saudável,variada e até exótica...hehe  e fui aprendendo  a não sentir mais falta da comida para suprir minhas decepções e preencher meu tédio ( as duas grandes molas motrizes da gula que me levaram aos 265 kilos!)

E pessoal...o mundo gira em torno da comida no ponto de vista social..o que você vai fazer ? Se isolar do mundo? E outra..você precisa de comida para viver e não mais viver para comer, essa é a troca que as pessoas parecem querer esquecer que serão obrigadas a fazer.

O medo existe, as pessoas são diferentes e acabam vindo com esse diálogo, ao meu ver simplista e linear, de que não entendem por que operei se continuo falando de comida. 

Patético...

E olha muita gente pensa assim, não entendem como alguém que sofreu com  obesidade pode falar de comida do jeito que eu falo.

Sinceramente? Prefiro falar de comida, fazer comida diferenciada, estudar sobre comida do que ser vencido por ela novamente e deixar que os problemas de falta de regra alimentar e o transtorno de compulsão alimentar periódico voltem.

É como estar sempre vivendo na beira do abismo dizem alguns, e sei que infelizmente muitos torcem para que eu caia e eles falem.. “ Não disse...gordo é uma merda mesmo...”

Mas quem disse que viver não é estar na beira do abismo? 

É o que sempre falo, não sou exemplo para ninguém, nunca pretendi ser, e nem faço do blog uma cartilha para que as pessoas mudem suas vidas e encontrem a luz...risos
Já é difícil e complicado lidar com meus medos, meus fantasmas e vontades que não tenho tempo nem disposição para assumir tais encargos extras...faço o que eu posso...

Não é fácil mudar a alimentação, eu digo que não gosto da expressão “ operei para ter vida normal” por que geralmente quem fala essa frase está querendo justificar algum comportamento infantilóide e imbecil dos tempos de gordo ou gorda, quando na realidade jamais souberam o que era ter vida normal....um contransenso diário....muito comum n a comunidade gastroplac...mas enfim...cada um com seus problemas!

De tudo isso acredito que o medo da comida estar tão perto é que ela é um lembrete com gosto, aroma, cor e textura do que fomos...e do que ainda somos! Pessoas que sempre terão na comida um desafio...

Eu estou tentando todos os dias perder esse medo e vencer esse fantasma!

Ou no mínimo torna-lo um fantasminha camarada ou que me permita Maria Clara Machado, meu Pluft Gastroplac!

Pense nisso!


2 comentários:

  1. Inteligente, sofrido em alguns aspectos, corajoso... parabens!

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  2. achei otimo o texto... intimista, mas voltado e focado no que interessa... Parabéns!!!

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